segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Religião e alucinação



Tenho muita pena dos crédulos. Chego a chorar por mulheres e homens ingênuos; os de semblante triste que lotam as magníficas catedrais, na espera de promessas que nunca se cumprirão. Estou consciente de que não teria sucesso se tentasse alertá-los da armadilha que caíram. A grande maioria inconscientemente repete a lógica sinistra do “me engana que eu gosto”.
Se pudesse, eu diria a todos que não existe o mundo protegido dos sermões. Só no “País da Alice” é possível viver sem perigo de acidentes, sem possibilidade da frustração, sem contingência e sem risco.
Se pudesse, eu diria que não é verdade que “tudo vai dar certo”. Para muitos (cristãos, inclusive) a vida não “deu certo”. Alguns sucumbiram em campos de concentração, outros nunca saíram da miséria. Mulheres viram maridos agonizar sob tortura. Pais sofreram em cemitérios com a partida prematura dos filhos. Se pudesse, advertiria os simples de que vários filhos de Deus morreram sem nunca verem a promessa se cumprir.
Se pudesse, eu diria que só nos delírios messiânicos dos falsos sacerdotes acontecem milagres aos borbotões. A regularidade da vida requer realismo. Os tetraplégicos vão ter que esperar pelos milagres da medicina - quem sabe, um dia, os experimentos com células tronco consigam regenerar os tecidos nervosos que se partiram. Crianças com Síndrome de Down merecem ser amadas sem a pressão de “terem que ser curadas”. Os amputados não devem esperar que os membros cresçam de volta, mas que a cibernética invente próteses mais eficientes.
Se pudesse, eu diria que só os oportunistas menos escrupulosos prometem riqueza em nome de Deus. Em um país que remunera o capital acima do trabalho, os torneiros mecânicos, motoristas, cozinheiros, enfermeiras, pedreiros, professoras, terão dificuldade para pagar as despesas básicas da família. Mente quem reduz a religião a um processo mágico que garante ascensão social.
Se pudesse, eu diria que nem tudo tem um propósito. Denunciaria a morte de bebês na Unidade de Terapia Intensiva do hospital público como pecado; portanto, contrária à vontade de Deus. Não permitiria que os teólogos creditassem na conta da Providência o rio que virou esgoto, a floresta incendiada e as favelas que se acumulam na periferia das grandes cidades. Jamais deixaria que se tentasse explicar o acidente automobilístico causado pelo bêbado como uma “vontade permissiva de Deus”.
Se pudesse, eu pediria as pessoas que tentem viver uma espiritualidade menos alucinatória e mais “pé no chão”. Diria: não adianta querer dourar o mundo com desejos fantasiosos. Assim como o etíope não muda a cor da pele, não se altera a realidade, fechando os olhos e aguardando um paraíso de delícias.
Estou consciente de que não serei ouvido pela grande maioria. Resta-me continuar escrevendo, falando… Pode ser que uns poucos prestem atenção.
Soli Deo Gloria

Ricardo Gondim

sábado, 29 de dezembro de 2012

Escolha agora, e escolha certo (por C.S.Lewis)

POR QUE Deus está desembarcando de forma mascarada neste mundo ocupado pelo inimigo, dando início a uma espécie de sociedade secreta para minar o Diabo? Por que ele não invadiu à força? Será que ele não é forte o suficiente? Bem, os cristãos pensam que Deus acabará desembarcando à força, só não sabemos bem quando. Mas não é difícil adivinhar por que ele está demorando tanto. Deus deseja nos dar a chance de andar livremente ao lado dele. Suponho que não pensaríamos bem de um francês que esperasse até os aliados estarem marchando para o interior da Alemanha para só depois anunciar que estava do nosso lado. Deus acabará invadindo a [história]. Mas eu me pergunto se as pessoas que pedem que Deus intervenha aberta e diretamente no nosso mundo já se deram conta de como será quando ele assim fizer. Quando isso acontecer, será o fim do mundo. Quando o autor caminha para o palco, a peça acabou. Deus acabará invadindo [a história], sem dúvida; mas de que lhe valerá dizer que você está do lado de Deus, vendo todo o universo se derretendo, como em um sonho, e vendo ainda algo que jamais você pôde imaginar, vindo com um grande estrondo; algo tão belo para uns e tão terrível para outros, de que ninguém terá meios de escapar? Dessa vez estaremos diante de um Deus sem disfarces; algo tão impressionante que suscitará ou um amor irresistível ou o mais irresistível horror em cada criatura. Então, será tarde demais para escolher de que lado
você está. Não existe utilidade alguma em dizer que você optou por se deitar, quando não há possibilidade de você se levantar. Essa não será a hora de escolher; será a hora em que acabaremos descobrindo qual dos dois lados nós escolhemos de fato; não importa se nós havíamos nos dado conta disso antes ou não. É hoje que nos é dada a chance de escolher o lado certo. Deus está mantendo essa chance aberta. Mas essa situação não durará para sempre. É pegar ou largar.
– de Mere Christianity [Cristianismo Puro e Simples] Retirado de Um Ano com C. S. Lewis (Editora Ultimato, 2005)

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

PALAVRAS DE CONFORTO DO DEUS DE CONFORTO INCOMPARÁVEL (Is 40.1-31)


Nos capítulos 40-48, há um contraste entre o Senhor poderoso e os ídolos impotentes. Esta seção também prevê a libertação do remanescente da Babilônia, que Deus profetizou de antemão, à vergonha e à derrubada de ambos os ídolos e adoradores de ídolos. O libertador Ciro, é chamado a cerca de 200 anos antes de ele aparecer na história. Este poder exclusivo de prever demonstra a Divindade de Javé e é a base para Isaías apresenta – LO a Israel como seu Deus incomparável. Assim, os capítulos 40-48 são uma profecia da libertação de seu povo do cativeiro Babilônico através de Ciro, algo que ninguém poderia prever. Tal habilidade identifica Deus, seu Deus, como totalmente Incomparável.

1.     “Consolai, consolai o meu povo,” o tema da promessa de Deus ao seu povo e a base da absoluta necessidade de seu cumprimento, 40.1-11.

a.       A ordem contínua aos Seus pregadores, 40.1-2.

(1)    Embora Ele discipline, Ele não cessa de amar, 40.1 (Hb 12.1-12).

(2)    A volta da ira para o conforto tem chegado, 40:2.

b.      Deus virá e habitará entre eles, e toda a humanidade verá sua glória, 40.3-5.

c.       O homem perecível versus a Palavra imperecível de Deus, 40.6-8.

(1)    O homem como planta nasce, floresce, e então desaparece, geração após geração, 40.6-8a.

(2)    Em contraste com a natureza não durável do homem, a promessa de Deus de libertar seu povo, será cumprida porque descansa sobre a autoridade divina eterna, 40.8b.

d.      Os pregadores devem proclamar que Ele está até agora pronto para habitar no meio do Seu Povo, 40.9-11.

(1)    Eles devem proclamar com ousadia e sem medo o desejo de Deus habitar com o Seu povo, 40.9.

(2)    Ele virá como Recompensador (10) e como Pastor, 40.11.

2.     O cumprimento da promessa de Deus libertar Seu povo descansa sobre o poder de Sua pessoa, 40.12-17.

a.                  Seu todo poderoso poder que ninguém mais tem 40.12.

b.                  Sua infinita sabedoria, que ninguém mais tem 40.12-13.

c.                   Sua exaltação como Governadora do mundo, que ninguém mais pode se gabar, 40.15-17.

3.     Quão infinito e sábio o Governador do universo é (12-17) superior a qualquer ídolo com o qual o homem pode compará-lo, 40.18-24.

a.       Os melhores ídolos não se comparam com esse Deus, 40. 18-19

b.      O mais insignificante ídolo não se compara a esse Deus, 40.20.

c.       A excelência incomparável de Deus pode ser vista:

(1) Na criação, 40.21,22.

(2) Na história, 40. 23,24.

4.     O Deus incomparável que criou os céus (25-26) é o mesmo que dá força e apoia o Seu povo (27-29). A única condição pra que sua ajuda seja dada a cada um, é esperar por Ele (40.30-31). Não pelo eu, não pelo pecado, não por Satanás. Por essa razão essa oração é tão indispensável para o cristão individual quanto para igreja comunidade. Como Kidner diz: “Esperar por Deus é aceitar Seu tempo e por essa razão sua sabedoria; isto marca a diferença entre a atitude de Saul e a atitude de Davi para com Deus (I Sm 26.8-14). Entre a atitude de Isaías e a atitude de Israel (Is. 30.15-18). Fé é tudo que é necessário para garantir participação na força de Deus .

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Avivamento Urgente

"Acredito que estaria cumprindo o meu dever de elevar os afetos dos meus ouvintes tão alto quanto me fosse possível, posto que eles não sejam afetados por nada, senão pela verdade, e por afetos que não discordem da natureza do assunto. Sei que já é velha praxe desprezar um modo de pregar muito caloroso e patético; e só tem sido apreciados como pregadores aqueles que mostram a mais ampla cultura, poder de raciocínio e correção na linguagem. Mas humildemente concebo que foi por falta de entender ou de estudar devidamente a natureza humana, que já se pensou que ela tem a maior propensão para atender aos fins da pregação; e a experiência da época passada e da atual confir­ma sobejamente o mesmo. Embora seja certo, como eu disse antes, que a clareza do discernimento, a ilustração, o poder de raciocínio e um bom méto­do de manejo doutrinário das verdades da religião, de muitas maneiras são necessários e proveitosos, e não devem ser negligenciados, todavia, não é o aumento no conhecimento especulativo de teologia que as pessoas necessitam tanto como algo mais. Os homens podem ter grande soma de luz, e não ter nenhum calor. Quanto dessa espécie de conheci­mento tem havido no mundo cristão na época atual! Porventura já houve alguma época em que o vigor e a penetração da razão, a extensão da cultura, a exatidão do discernimento, a correção do estilo e a clareza de expressão fossem tão abundantes? E, contudo, houve alguma época em que tenha havido tão pouco senso da malignidade do pecado, tão pouco amor a Deus, disposição celestial e santida­de no viver, entre os que professam a religião verdadeira? Nossa gente não precisa ter suas cabe­ças abastecidas, tanto como precisa ter os seus corações emocionados; e a nossa gente está na maior necessidade da espécie de pregação mais propensa a fazer isso" Jonathan Edwards

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Maturidade Cristã


Considerem, também, que a conversão não é sadia, se vocês não estão sinceramente desejosos de crescer. A graça não é verdadeira, se não houver desejo de maior porção dela; sim, se não houver desejo de alcançar a própria perfeição. Uma criança não nasce para permanecer criança, pois isso seria monstruoso; mas para crescer e alcançar a maturidade. Assim como o reino de Cristo neste mundo é comparado por Ele a um pouco de fermento e a um grão de mostarda, no início, que depois cresce de modo espantoso; assim o Seu reino na alma é também da mesma natureza. Se vocês estão contentes com a porção de graça que têm, vocês não têm graça alguma, mas apenas uma sombra ou imitação dela. Será que alguém acha que deve racionar a santidade e argumentar que se deve ser moderado quanto a isso; como se fosse intemperança amar a Deus, temê-lO, buscá-lO e obedecê-lO mais do que o fazem - como se estivéssemos em perigo de excesso ao fazer isso? Se uma pessoa sincera e por experiência souber o que é a santidade, jamais poderá conceber tal idéia.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Cristo é Tudo Para Nossa Salvação

"Cristo é o caminho: os homens sem Cristo são como Caim, errantes pelo mundo. Cristo é a Verdade: sem Ele, os homens são enganadores tal como o diabo, desde a antiguidade. Cristo é a vida: sem Ele, os homens estão mortos em delitos e pecados. Cristo é a luz: sem Ele, os homens estão em trevas e não sabem para onde vão. Cristo é a videira: os homens que não estão em Cristo são ramos cortados e preparados para o fogo. Cristo é a rocha: os homens que não estão construídos sobre Ele serão arrastados pelas torrentes. Cristo é o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim, o Autor e o Consumador, Aquele que começa e Aquele que conclui a nossa salvação. Quem não tem a Cristo, não possui o princípio do bem, e sua infelicidade não terá fim. Oh, bendito Jesus, seria melhor não existir do que existir sem Ti! Melhor não nascer do que morrer sem Ti! Mil infernos não são piores do que a eternidade sem Ti!" John Owen

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Não se Contente com sua Pregação Medíocre

Nosso evangelho não chegou até vós tão-somente em palavra, mas, sobretudo, em poder, no Espírito Santo e em plena convicção.
1 Thess 1.5
Quero examinar um lugar onde há demasiada mediocridade na igreja de Jesus Cristo: a pregação. Por cerca de 40 finais de semana por ano eu estou com alguma parte do corpo de Cristo em algum lugar do mundo. Muitas vezes, não sou capaz de sair no sábado e, por isso, vou assistir ao culto da congregação local (quando não estou programado para pregar). O que estou prestes a dizer provavelmente vai me encrencar, mas estou convencido de que precisa ser dito. Estou triste e angustiado por dizer isso, mas já estou cansado de ouvir palestras teológicas chatas e mal preparadas, dadas por pregadores não inspirados, lendo manuscritos, e tudo isso feito em nome da pregação bíblica.

Não estou surpreso que as mentes das pessoas divaguem. Eu não estou surpreso que as pessoas têm lutado para se manter atentas e despertas. Estou surpreso que mais não têm. Eles têm sido ensinados por alguém que não trouxe as armas apropriadas para o púlpito, a fim de lutar por eles e com eles. A pregação é mais do que regurgitar seu comentário exegético favorito, reformular os sermões de seus pregadores favoritos, ou remodelar as notas de uma de suas aulas favoritas do seminário. É trazer as verdades transformadoras do Evangelho de Jesus Cristo de uma passagem que foi devidamente compreendida, convincentemente e praticamente aplicada, e entregue com a ternura envolvente e a paixão de uma pessoa que foi quebrantada e restaurada pelas verdades que ela irá comunicar. Você simplesmente não pode fazer isso sem a devida preparação, meditação, confissão e adoração.

Simplesmente não dá para você começar a pensar em uma passagem pela primeira vez no sábado à tarde ou à noite e dar o tipo de atenção que ela precisa. Você não será capaz de compreender a passagem, de ser pessoalmente afetado e de estar preparado para dá-la aos outros de uma forma que contribua à contínua transformação deles. Como pastores, temos que lutar pela santidade da pregação, ou ninguém mais o fará. Temos que exigir que os afazeres do nosso trabalho permitam o tempo necessário para se preparar bem. Temos que arranjar tempo em nossas programações para fazer o que for necessário para cada um de nós, considerando nossos dons e nossa maturidade, estejamos preparados como porta-vozes para nosso Rei Salvador. Não podemos acomodar com padrões que denigram a pregação e degradem a nossa capacidade de representar um Deus glorioso de uma graça gloriosa. Não podemos nos permitir estarmos muito ocupados e distraídos. Não podemos estabelecer padrões baixos para nós mesmos e para aqueles a quem servimos. Não podemos nos desculpar e acomodar. Não podemos nos permitir espremer mil reais em preparação em poucos centavos de tempo. Não devemos perder de vista Aquele que é Excelente e a excelente graça que fomos chamados para representar. Não podemos, porque estamos despreparados, deixar Seu esplendor parecer chato e sua maravilhosa graça, ordinária.

A cultura e disciplina que envolve a nossa pregação sempre revelam o verdadeiro caráter de nossos corações. É exatamente aí que a confissão e o arrependimento precisam acontecer. Não podemos culpar as exigências de nosso trabalho ou nossa ocupação. Não podemos apontar o dedo para as coisas inesperadas que aparecem no calendário de cada pastor. Não podemos culpar as demandas da família. Temos que humildemente confessar que a nossa pregação é medíocre e que não está subindo ao patamar para o qual fomos chamados. Nós somos o problema. O problema é que perdemos a nossa admiração, e com essa perda nos acomodamos em apresentar a excelência de Deus de uma forma que não é nada excelente. Qualquer forma de mediocridade no ministério é sempre um problema do coração. Se isso o descreve, então corra ao seu Salvador em humilde confissão e abrace a graça que tem o poder de resgatá-lo de si mesmo, e, ao fazer isso, restaurar a sua admiração.
 
PAUL TRIPP