CONTRA A
COISIFICAÇÃO DE PESSOAS
1. DINHEIRO NÃO É UM SUBSTITUTO
DA POLIDEZ
Se vai a um restaurante e ao se
chegar lá a pessoa não se apercebe que o menu que chegou à mesa foi trazido por
uma pessoa. De cabeça baixa o cliente olha o menu e diz em tom autoritário –
traga-me um x-burger e um suco de laranja – olhando distraidamente para seu
acompanhante devolve o menu para o garçom e nem ao menos se dá conta que há uma
pessoa ali do seu lado. Uma pessoa cujo nome não é garçom; tem uma história tão
extraordinária quanto à de qualquer gênio da humanidade. Dentre os sete bilhões
de humanos não há ninguém semelhante a ela. Talvez seja uma mãe solteira que
sustenta cinco crianças com um salário mínimo. Mora numa área de risco. Várias
vezes à noite acorda assustada com o barulho da chuva caindo na lona do barraco
onde mora. Todo dia seu chefe diz que se ela não cumprir os seus deveres ela
vai ser despedida. Mas o cliente está pagando, ele tem o direito de ser
mal-educado, desatencioso e esnobe. Dinheiro não dá o direito a ninguém de ser
despolido rude e desatencioso, nem ao rico nem ao pobre. Compra-se o serviço
não a pessoa. O dinheiro torna as pessoas que não o tem invisíveis. E os que o
possuem em deuses onipresentes. Seja cortez, isso pode ´salvar’ uma vida. Gosto muito da percepção arguta de C. S. Lewis
– “Você jamais conversou com mero mortal. As nações, culturas, artes, civilizações
– essas são mortais, e sua vida é para a nossa como a vida de um pernilongo.
Mas é com imortais que fazemos piadas, trabalhamos, nos casamos, desprezamos e
exploramos – horrores imortais ou esplendores eternos.”
2. DINHEIRO NÃO PAGA TUDO
Tempos atrás recebi um dicionário de presente.
Um dia ao procurar o significado de uma palavra, me deparei com um folheto com uma
nota de um dólar estampado ao fundo, onde se encontrava a seguinte inscrição: “Dinheiro
pode comprar uma cama, mas não pode comprar uma noite de sono. Dinheiro pode
comprar livros, mas não inteligência. Pode comprar alimento, mas não apetite.
Pode comprar luxo, mas não beleza. Uma casa, mas não um lar. Remédios, mas não
saúde. Entretenimento, mas não felicidade. Um crucifixo, mas não um salvador.
Um banco na igreja, mas não o céu.” Existem coisas impagáveis. Jamais se pagará
as dores de parto de uma mãe ao pari um filho. Jamais se pagará os sábios
conselhos que um velho amigo dá. É impagável a dívida do leitor ao um escritor
cujo livro mudou o rumo da vida. É impagável um pôr - do- sol. A vida é impagável.
A gratidão amortiza a dívida.
Salvador Dali, pintor surrealista espanhol,
teve uma relação turbulenta com seu pai. Certa feita, após uma discussão
calorosa com ele, foi ao banheiro masturbou-se, colocou o sêmem em um envelope,
endereçou o envelope a seu pai – como se tivesse pagando a conta de gás ou
eletricidade – escreveu no envelope “Inteiramente pago.”
Nem tudo
é pagável, nem tudo se compra. Quanto vale o trabalho de uma vida? Paguei com vinte reais
a dedicação e o sacrifício de João ferreira de Almeida ao traduzir a Bíblia para
o português?
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