“Mas
o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns
da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios;
pela hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo cauterizada a sua
própria consciência” – 1 Tm 4:1-2
Quando eu vi este título pela primeira vez fiquei impressionado e curioso. Trata-se de um capítulo do livro: “Lições aos meus Alunos” [1] de C. H. Spurgeon, o célebre pregador Inglês – livro que todos os pastores deveriam ter. Também conhecido como “O Príncipe dos Pregadores”.
Neste
capítulo ele fala do cuidado pastoral com relação a conversas e
intrigas dentro de uma comunidade cristã, dando conselhos valiosos de
alguém muito experimentado na arte de pastorear. Confesso que tenho
aprendido muito com este grande pregador, que nos fala depois de morto
através de seus escritos. Dentre outras coisas ele nos diz o seguinte:
“...é
sempre melhor não saber, não querer saber, o que dizem de você, amigos e
inimigos. Os que nos elogiam provavelmente estão tão enganados como os
que nos ofendem, e aqueles podem ser considerados como contrapeso
destes, se é que vale a pena levar em conta o julgamento feito pelos
homens. Se temos a aprovação do nosso Deus, atestada pela consciência em
paz, podemos permitir-nos ser indiferentes às opiniões dos nossos
semelhantes, quer nos recomendem, quer nos condenem. Se não conseguimos
atingir este ponto, somos bebês, e não homens”. (Pág. 180-181)
Conquanto
esse título fale respectivamente da teologia pastoral, gostaria de
usá-lo no que tange o evangelicalismo moderno. Estamos vendo um declínio
patente entre as comunidades ditas cristãs em níveis alarmantes.
É
notório e lamentável que a Igreja tenha esquecido a teologia dos
reformadores, a pregação e devoção dos puritanos, os “Owens”, os
“Calvinos”, os “Spurgeons”, e tantos nomes mais que fizeram da fé cristã
digna de ser chamada cristã em todos os sentidos. Tempos que não voltam
mais. Contudo, creio que o mesmo Deus que levantou homens desse calibre
poderá levantar homens em nosso século que destruam as investidas sutis
do diabo contra a Igreja do Senhor.
O
Deus de Calvino continua sendo o nosso Deus, apesar da lamentável
situação bíblica, teológica e moral em que vivemos neste presente
século, Ele continua sendo Soberano.
Por isso...
Queria ser cego de um olho
– para não ver o povo de Deus decretar, reivindicar, mandar em Deus,
como se Deus fosse um moleque de recados que satisfaz as míseras
necessidades de homens cujo deus é o ventre. Para não ver pessoas
confiando em objetos, amuletos e regras de imaginação humana. – Fp 3:19;
Rm 16:18. Como se um simples pedaço de matéria tivesse o poder de nosso
Redentor. É triste ver as pessoas confiarem no “sal grosso”, no “manto
sagrado”, passando pelas “portas da prosperidade” e tomando o “banho do
amor” para conseguir alguém.
Queria ser cego de um olho...
Queria ser cego de um olho
– para não ver líderes e “mestres” fazendo acrobacias com as pessoas e
“mágicas nos púlpitos” para impressionar as multidões, prometendo-lhes
algo que não podem dar - "E curam superficialmente a ferida da filha do meu povo, dizendo: Paz, paz; quando não há paz”. – Jr 6:14.
Chega
de pregadores de fachada; chega de alimentarem o povo com palha dizendo
que é gordura. Basta, já não agüento mais. Em muitos momentos sinto o
desejo de fechar os olhos para não poder ver.
Queria ser cego de um olho...
Queria ser surdo de um ouvido
– para não ouvir tantas barbaridades nos púlpitos e programas
televisivos. Heresias destruidoras de falsos profetas e mestres da
atualidade – prega-se à libertação e colhe-se escravidão – que não sabem
e nem experimentaram a sã doutrina. – II Pd 2:1.
Como
é difícil escutar que é no homem que encontramos a chave da salvação
das almas. Escutar coisas como: “Deus vai ter que responder”; “Deus está
subordinado a nossa vontade”; “tudo depende do homem”; “Deus nada pode
fazer se o homem...” etc.
Queria ser surdo de um ouvido...
Queria ser surdo de um ouvido – para
não ouvir as pessoas falarem em nome de Deus, prometendo coisas como se
fosse o próprio Senhor, denunciando as falhas dos outros, menos às
delas. Falam com uma impressionante autoridade como se elas mesmas não
estivessem nas mesmas condições de seus ouvintes – ou até pior. "Assim
diz o SENHOR dos Exércitos: Não deis ouvidos às palavras dos profetas,
que entre vós profetizam; fazem-vos desvanecer; falam da visão do seu
coração, não da boca do SENHOR." – Jr 23:16.
Os “manipuladores da obra de Deus” estão por toda parte, quer nas Igrejas histórias – não poucas
– , quer nas neopentecostais. Ah! Que saudades de pregações bíblicas,
fundamentadas na pura verdade de Deus. De um Deus Soberano que tudo faz
como Lhe agrada. Que não precisa pedir licença ao homem para agir. Um
Deus que é Deus de verdade.
Queria ser surdo de um ouvido...
Não
obstante, louvado seja Deus, que nos concedeu a graça de vermos através
das lentes de Sua verdade e nos deu ouvidos para ouvir que a mensagem
do Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo continua sendo proclamada por
aqueles que são fiéis e não sucumbem diante das dificuldades e de
multidões ávidas por escutar o que lhes agrada os ouvidos moucos.
Obrigado Senhor, pelos olhos e ouvidos bons. Graças Te damos, pois
sabemos que só enxergamos e vemos pela Tua Graça e misericórdia.
Sejamos
como Micaías que falava o que o Senhor ordenava e não sucumbamos à
síndrome de Acabe, o qual só desejava escutar o que lhe agradasse o
ouvido e que é tão patente nos dias hodiernos. Os “Acabes” podem ser
encontrados nos mais diversos lugares. Vez por outra eu encontro um. Eu
disse um? Encontro milhares.
A nossa palavra só terá autoridade se estiver firmada no “Assim diz o Senhor”. "E disse Micaías: Se tu voltares em paz, o SENHOR não tem falado por mim. Disse mais: Ouvi, povos todos!" . – I Rs 22:28.
Antônio Pereira da Costa Júnior