terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

CONTRA A COISIFICAÇÃO DE PESSOAS


CONTRA A COISIFICAÇÃO DE PESSOAS

1. DINHEIRO NÃO É UM SUBSTITUTO DA POLIDEZ
            Se vai a um restaurante e ao se chegar lá a pessoa não se apercebe que o menu que chegou à mesa foi trazido por uma pessoa. De cabeça baixa o cliente olha o menu e diz em tom autoritário – traga-me um x-burger e um suco de laranja – olhando distraidamente para seu acompanhante devolve o menu para o garçom e nem ao menos se dá conta que há uma pessoa ali do seu lado. Uma pessoa cujo nome não é garçom; tem uma história tão extraordinária quanto à de qualquer gênio da humanidade. Dentre os sete bilhões de humanos não há ninguém semelhante a ela. Talvez seja uma mãe solteira que sustenta cinco crianças com um salário mínimo. Mora numa área de risco. Várias vezes à noite acorda assustada com o barulho da chuva caindo na lona do barraco onde mora. Todo dia seu chefe diz que se ela não cumprir os seus deveres ela vai ser despedida. Mas o cliente está pagando, ele tem o direito de ser mal-educado, desatencioso e esnobe. Dinheiro não dá o direito a ninguém de ser despolido rude e desatencioso, nem ao rico nem ao pobre. Compra-se o serviço não a pessoa. O dinheiro torna as pessoas que não o tem invisíveis. E os que o possuem em deuses onipresentes. Seja cortez, isso pode ´salvar’ uma vida.    Gosto muito da percepção arguta de C. S. Lewis – “Você jamais conversou com mero mortal. As nações, culturas, artes, civilizações – essas são mortais, e sua vida é para a nossa como a vida de um pernilongo. Mas é com imortais que fazemos piadas, trabalhamos, nos casamos, desprezamos e exploramos – horrores imortais ou esplendores eternos.”

2. DINHEIRO NÃO PAGA TUDO
         Tempos atrás recebi um dicionário de presente. Um dia ao procurar o significado de uma palavra, me deparei com um folheto com uma nota de um dólar estampado ao fundo, onde se encontrava a seguinte inscrição: “Dinheiro pode comprar uma cama, mas não pode comprar uma noite de sono. Dinheiro pode comprar livros, mas não inteligência. Pode comprar alimento, mas não apetite. Pode comprar luxo, mas não beleza. Uma casa, mas não um lar. Remédios, mas não saúde. Entretenimento, mas não felicidade. Um crucifixo, mas não um salvador. Um banco na igreja, mas não o céu.” Existem coisas impagáveis. Jamais se pagará as dores de parto de uma mãe ao pari um filho. Jamais se pagará os sábios conselhos que um velho amigo dá. É impagável a dívida do leitor ao um escritor cujo livro mudou o rumo da vida. É impagável um pôr - do- sol. A vida é impagável. A gratidão amortiza a dívida.  
             Salvador Dali, pintor surrealista espanhol, teve uma relação turbulenta com seu pai. Certa feita, após uma discussão calorosa com ele, foi ao banheiro masturbou-se, colocou o sêmem em um envelope, endereçou o envelope a seu pai – como se tivesse pagando a conta de gás ou eletricidade – escreveu no envelope “Inteiramente pago.”
                Nem tudo é pagável, nem tudo se compra. Quanto vale o trabalho de uma vida? Paguei com vinte reais a dedicação e o sacrifício de João ferreira de Almeida ao traduzir a Bíblia para o português?

 Pr. Lindomar Moreira

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Porque não posso ser pastor

Senhor Jesus,
Meditei bastante, nestes anos que se passaram, acerca da tarefa para a qual me incumbiste desenvolver. Confesso que resenho estes versos e Te endereço esta carta bastante triste e com lágrimas nos olhos. Em minha mocidade, ao receber Teu chamado, fiquei muito agradecido e feliz, porquanto de mim Te lembraste em Teus eternos planos. De fato, para um novo convertido, ouvir a Tua voz é algo impactante, como um dia me foi, também. Porém, hoje percebo que não dimensionava o que havia de enfrentar. Lembro que, imediatamente, sem pestanejar, abracei a vocação e abandonei os sonhos. Em miniatura de Abraão, sem saber ao certo o que me aguardava, dediquei-me e engajei-me nos Teus projetos. Apesar das tantas dificuldades familiares, por decepcionar os sonhos de meus pais, preocupei-me em obedecer (I Sm. 15:22), sufocando as minhas emoções. Envolvi-me com pessoas e lideranças achando que tínhamos todos, como Teu povo e como Teu Corpo (Rm. 12:5; I Co. 12:12), o mesmo propósito e a mesma determinação e foi, então, que tudo mudou. Hoje, cansado e desiludido, nessa humilde carta venho expressar-Te os motivos de meu insucesso em atender às Tuas solicitações. A priori, é necessário dizer que apenas na convivência com os Teus outros filhos pude perceber minhas gritantes e terríveis limitações. A posteriori, vi-me tolhido e impossibilitado de cumprir Teus desígnios, e entendi que não posso Te servir por razões que estão além de meus esforços individuais. Tais limitações só foram demarcadas no convívio eclesiástico, porque em mim faltam várias particularidades que sobram em outros vocacionados. Por exemplo, eu tenho muitas falhas, mas, não criei o hábito de ser cínico ou hipócrita, como tantos se acostumaram a ser apenas para não perderem a membresia e a admiração narcisista que nutriram em torno deles mesmos. Quem eu sou é algo que não consigo - e me recuso - mascarar, da mesma forma que não sei omitir-me diante do que está errado. Eu percebi que, tanto para quem lidera quanto para quem é liderado, um pastor não pode cometer ou ser passível de erros e, também, não pode repreender as ovelhas dos caminhos maus que seguem, senão pode ouvir o que não quer ou perder o membro, o que é sentido diretamente no recolhimento dizimal. Porém, não coaduno com tais ditames e nunca tive medo de falar a verdade (ou de enfrentar tribulações financeiras). Eu tenho falhas que prefiro fazê-las notórias, a fim de que todos saibam que perfeição só há em Ti (Ef. 4:13; Cl. 1:15; Hb. 7:28) e que não é por causa das minhas falhas, ou das falhas de quem quer que seja, que somos impedidos de amar uns aos outros tal como nós somos (Rm. 12:10; I Pe. 1:22; I Jo. 3:14; 4:20). E, se por um lado tenho alguns defeitos, por outro não tenho nenhuma espécie de medo em declarar
a verdade e anunciar a Tua lei (Mt. 10:27; Cl. 1:28), pois prefiro encontrar-me com meu irmão no céu (Ez. 3:20), ao vê-lo ir para o inferno. É intrigante demais o comportamento do Teu povo. A idéia nutrida é que pastores não pecam e ovelhas não podem ser redargüidas. O resultado, então, do pecado de um líder é quase um martírio. Contudo, a conseqüência do pecado de uma ovelha é “essas coisas acontecem”. Logo, em se tratando especificamente de minha pessoa, jamais soube omitir minhas falhas e limitações. Eu compreendo a conduta cristã diferente de alguns, pois, para mim deve servir de exemplo (I Tm. 4:12), e não moldar-se em fachadas. Ora, como ainda não somos perfeitos (Fp. 3:12), só serve de exemplo aquilo que é bom (Is. 55:2; Rm. 15:2). A Tua Palavra ensina que há a universalidade sugestiva do pecado (I Jo. 1:10), desta maneira, ninguém pode alegar-se melhor que - ou superior a - seu irmão (Fp. 2:3; Hb. 10:24).
A sociedade ainda incorpora elementos místicos em sua subjetividade, levando a idéia papal para o relacionamento religioso. Em outras palavras, Tuas ovelhas ainda imaginam que os líderes são inerrantes. Logo, Senhor, pessoas semelhantes a mim, que não sabem esconder seus defeitos e que preferem falar a verdade no lugar de se esconderem em capas de mentira, não podem (e não ganham) espaço nos meios cristãos. É necessária uma leve pitada de hipocrisia temperada com aromas de cinismo, ou seja, é melhor transparecer o que não é. Como se não fosse o suficiente, percebi, tardiamente, que eu não sou a espécie de candidato que cai na graça da comunidade eleitoreira. Neste impasse, porque me autoavaliei, eu não sei se estou inteiramente certo, mas, parece que não é bem quisto aquele que só fala a verdade (Jo. 6:60). Confesso que fiquei sem saber se sou demasiadamente ingênuo e chato, ou se o Teu povo de fato goste de ouvir contos e fábulas míticas acerca de suas próprias vidas (II Tm. 4:4). Eu li na Tua Palavra que é dever de quem lidera falar sempre a verdade (Ex. 18:21; Ef. 4:25), ainda que “doa a quem doer”, deve se anunciar a verdade em todo tempo (II Tm. 4:2), pois, o fim da vida comum em igrejas é o aperfeiçoamento do caráter (I Co. 2:16; Cl. 2:6) e a preparação para a Tua volta (I Ts. 5:23; II Pe. 3:12; I Jo. 2:28). Embora eu tenha me esforçado para velar por Tua Palavra, fiquei admirado ao ver que meus ouvintes, alguns de Teus filhos, me criticavam, ao invés de estarem satisfeitos por serem redargüidos a desviarem-se do erro (Ez. 3:18, 19; II Tm. 4:3). Já que não há em mim nenhuma veia teatral e o ibope não é minha preocupação, não fui hábil o suficiente para agradar Teus filhos levando-lhes mensagens que valorizam o que são sem corrigir-lhes o que fazem. Inexiste em mim a malícia politiqueira. Tenho incrível inaptidão para confortar o ego das pessoas, prefiro agradar Teu coração. Em resumo, Senhor Jesus, sou um incrível fiasco como candidato a partidos religiosos antropocêntricos, sejam pentecostais ou cessacionistas. Os primeiros preferem o conforto de revelações no lugar de libertações de crenças supersticiosas; os segundos preferem a glória tradicionista do passado no lugar da renovação espiritualista do presente; o primeiro é fundamentalista demais e o segundo é legalista demais. A nenhum dos dois eu soube agradar, exatamente porque lhes anunciei aquilo que não queriam ouvir.  O pior de tudo é que, ao que parece, ou eu aprendi a Tua Palavra da forma mais errada possível, ou sou incapaz de apreender certas passagens como tantos compreendem.Por exemplo, eu não consigo entender que o dever do dízimo seja uma barganha por
prosperidade, e sim uma forma de adoração, visto que faz parte do culto (Gn. 14:20; 28:22; Lv. 27:32; Dt. 12:6; Hb. 7:1-9), assim como não consigo entender que a Tua Palavra estimule aos cristãos acumularem bens no mundo físico (Mt. 6:19).Senhor, admito que eu já me esforcei, mas, não consigo compreender de outra maneira. Há quem ensine a tirar dízimo dos dízimos, algo que só era destinado aos Levitas, porque não tinham herança em Israel (Nm. 18:21-26). Doutro lado, tenho dificuldades em acatar certos conselhos, pois, é impossível que o dízimo tenha um mero efeito protecionista, uma vez que Tua Palavra ensina que o dízimo é ambivalente, tanto protege quanto abençoa (Ml. 3:10). De fato a proteção é uma conseqüência da benção, visto vir depois (Ml. 3:11). Ademais, se o dízimo é parte do culto, como pessoas completamente
endividadas dizimam do que não têm, se o dinheiro delas legalmente pertence a seus credores? Estão descumprindo uma série de preceitos da Tua graça (Mt. 5:24; Rm. 13:8; I Tm. 3:7) apenas com o objetivo de prosperarem. Ora, diz-se que há maldição nos que não prosperam, e não há maldição nos que devem? Não há maldição em escândalos? Ou em adultério, ou em mentira, ou em fofoca, ou em não amar ao irmão? Não nos é necessário nascer de novo (Jo. 3:3; I Jo. 4:7)? Ah, Senhor! Tantas coisas eu nem soube aprender, nem pude aceitar. Acredito que seja impossível ser do Teu desejo que Teus filhos, que irão morar no céu, sejam altamente prósperos para si mesmos neste mundo, já que nenhum dos Teus discípulos, nem a Tua Palavra, e nem mesmo o Senhor, foram ou ensinaram a ser prósperos aqui (Sl. 37:16; Pv. 11:28; 13:7; 22:1; Mt. 6:19; 8:20; 13:22; Mc. 10:23; Lc. 18:24; Fp. 4:11, 12), antes gastaram a vida e o que tinham para abençoar os outros (Mt. 9:9; 19:21; Lc. 9:13; 12:34; 18:22; Jo. 1:43). Através da Tua Palavra percebo que toda prosperidade que por Ti é outorgada, serve para auxiliar na Tua obra e aos nossos irmãos (I Tm. 6:17-19; I Jo. 3:17). Inclusive, os que encontram a jóia que é a vida eterna, são aconselhados a deixar tudo o que tem e vender a tudo o que possuem (Mt. 10:37-42; 13:44, 46; 19:29). Como é possível pregar sobre a vida eterna ensinando a viver a terrena? Como é possível falar de céu se ninguém deseja tirar os pés desta terra? Oramos por bênçãos, casas, salários, dinheiro, empregos, viagens, automóveis, empresas, negócios, mas, como é possível que Tu voltes para nos buscar, se nem oramos por isso (Ap. 22:17)? Discordo completamente dos que procuram uma felicidade nesse mundo tenebroso (Mt. 10:39; I Jo. 2:15, 16; 4:4; 5:19), pois, assim não era o coração de Teus discípulos (At. 20:24; Fp. 1:21), ou dos grandes homens que na história Te adoraram, e amar as riquezas traz desolação (I Tm. 6:10). Senhor, meus pais não me ensinaram a me vender, nem me dobrar e nem servir a homens. Eu não sei enganar as pessoas com meias ou falsas verdades, como fazem outros, a fim de que as pessoas façam o que dizem ser o melhor para elas, quando, na verdade, é apenas o melhor para si mesmos. Como anunciador das boas novas (Sl. 68:11; Is. 52:7), tudo o que sei fazer é ensinar-lhes de uma maneira mais fácil aquilo que já está contido em
Tua Palavra. A mim não é possível assumir a culpa ou desejar as melhores coisas no lugar de outrem. Ao anunciar a Tua Palavra, só posso desejar que a semente caia em bom terreno (Mc. 4:1-20), e cresça, porém, o resto é entre eles e o Senhor (I Co. 3:6). Quando o meu dever de ensinar encerra, prossegue o dever de orar. Este meu desapego das coisas materiais não me deu oportunidade de prender-me a bens, riquezas ou mesmo a templos e paredes. Passei a ser julgado por todos. As pessoas simplesmente desconfiam de quem não é apegado a dinheiro. Desconfiaram de mim quando abandonei o conforto de meu lar e a segurança de meus pais. Desconfiaram de mim quando rejeitei as herdades familiares. E ainda desconfiam. Parece que te amar acima de todas as coisas (Mt. 22:37-39), e amar ao meu próximo (Tg. 2:8), não está mais na moda. Ainda que meu coração arda por Tua obra, não houve oportunidade ou espaço concedido (sequer compreensão) para que eu pudesse apresentar aos demais o pouco que me concederas. Hoje, tenho encontrado tantas dificuldades em anunciar a verdade, pois, os púlpitos estão lacrados para o meu estilo de sermão. Há oportunidade para o recém convertido que nem foi discipulado ou batizado, contudo, como era famoso no mundo, todos querem mostrar sua “conversão”. Há oportunidade para o adivinho que brinca com a ingenuidade do Teu povo, iludindo com falso profetismo (Ez. 13:3; Mt. 24:11, 24; I Jo. 4:1) acerca de promessas que nunca chegam. Há oportunidade para o leigo que não é instruído e que não se preparou adequadamente (II Tm. 2:15) para pregar a Tua Palavra. Há lugar para o doutor em teologia (II Pe. 2:1), tão estudado e tão preparado que nem crê mais que o mar vermelho se abriu (Ex. 14:21), e questiona seriamente como os cavalos e os cavaleiros de faraó morreram afogados num arrecife (Ex. 14:27, 28). Há oportunidade para o super-espiritual, que anuncia novas revelações (Gl. 1:8). Todavia, ao teor de meu conteúdo não houve lugar. Enfim, de tantas experiências amargosas, venho reportar ao Senhor da Seara (Lc. 10:2) que não consigo espaço para difundir a Tua Palavra e desenvolver o ministério confiado. Eu tenho me empenhado de diversas maneiras, para não ser duramente cobrado (Mt. 25:14-30). Ainda que assim seja, preciso informar, todavia, que não quero participar deste povo que deturpa o Teu evangelho, uma vez que sei que há joio e trigo e que nem todos que Te invocam herdarão a vida eterna (Mt. 7:21; 13:25-29). Prefiro manter meus pés na lâmpada (Sl. 119:105) e crer no conteúdo da Palavra para não ser por ela condenado (Jo. 12:48; II Tm. 3:16). Prefiro permanecer nas Tuas Palavras (Jo. 8:31; 15:7) e ser bem aventurado (Sl. 1:2). Prefiro fugir daquilo que não aparenta ser luz (I Ts. 5:22; Lc. 11:35; II Co. 6:14). Temporariamente vencido pelo espécime “crente”, pela inimizade da carne e por aqueles que se agradam em satisfazê-la (Gl. 5:17-20; Cl. 2:23), quero solicitar a Tua intervenção e o desejo mais profundo que há em mim, para que Voltes o quão logo Possas. Como se tudo isso não fosse suficiente, eu ainda não sei competir no mercado pastoral. Creio que os Teus filhos não devam invejar ou falar mal uns dos outros (Rm. 12:10; I Co. 12:23; Gl. 5:15, 26; Ef. 5:21; Cl. 3:9; Tg. 3:16; 4:11; I Pe. 2:1), tão pouco acredito que no Teu reino as coisas funcionem pela força do homem, sim pela força do Teu Espírito (Zc. 4:6). Então, quando olho para um amigo de ministério, ocupe qualquer cargo para o qual Tu o tenhas chamado, vejo nele uma parte do Teu Corpo (I Co. 12:25-27), um parceiro, e não um adversário. Eu sei, pela Tua palavra, que no Teu Reino há lugar para todos, já que cada um desenvolve uma tarefa em particular (I Co. 12:29, 30; I Pe. 4:10), logo, não tenho motivos para intrigar-me de meu irmão simplesmente por dividir com ele o mesmo ministério, já que tudo provém de Ti (I Co. 12:11, 18).
Desta maneira, Senhor Jesus, não tenho obtido sucesso, porque há muita contrariedade com a Tua Palavra, e muito homem no lugar do Teu Espírito. Então, venho pedir que observes com carinho minha situação e a tarefa nada fácil de pregar a verdade a despeito das pedradas que serão atiradas. É por isso que não posso ser pastor, porquantobusco não ser insensato ou mercador, não busco comer a gordura e vender a lã do Teu rebanho (Zc. 11:15-18). Agradeço a confiança que depositaste em mim, espero em um futuro próximo, ainda nesta vida, cumprir o plano que traçaste – o que espero que já esteja acontecendo e tudo faça parte deste eterno propósito – ainda que muitos não queiram e que eu ainda não entenda. Fica aqui a confissão de meu amor e que tudo o quanto faço é por te amar incondicionalmente. Beijos, Senhor, e que me abençoes.

Pr. Túlio Jansey


Tarefas Modestas

          O trabalho pastoral consiste de tarefas modestas, diárias e determinadas. É como o trabalho de um fazendeiro. O trabalho pastoral envolve rotinas semelhantes a limpar o curral, o estábulo, coletar o esterco e arrancar as ervas daninhas.
          Isso não é, em si, um trabalho ruim, mas, se esperamos cavalgar diariamente num desfile, num imponente cavalo preto, e então voltarmos para um estábulo limpo onde um empregado escova e alimenta nossa montaria, ficaremos extremamente desapontados e viveremos cheios de horríveis ressentimentos. Existem muitas coisas gloriosas no trabalho pastoral, mas a congregação, como tal, não é gloriosa. A congregação é semelhante a Nínive: um lugar de trabalho duro sem muita expectativa de sucesso, pelo menos do modo como é medido pela sociedade. Porém, alguém tem de fazê-lo, alguém tem de fielmente dar visibilidade pessoal à continuidade da Palavra de Deus no lugar de adoração e oração, nos locais de trabalho e lazer, e nos congestionamentos da virtude e do pecado. Qualquer pessoa que idealize a congregação presta um grave desserviço aos pastores. Ouvimos histórias de igrejas entusiásticas e cheias de charme e nos perguntamos o que estamos fazendo de errado, pois nossa congregação não tem nada a ver com isso como resultado de nossa pregação. Contudo, se examinarmos de perto, não existe uma congregação perfeita. Permaneça em um templo por algum tempo e você descobrirá fofocas intermináveis, equipamentos que não funcionam, discípulos que desistiram, corais que desafinam — e coisas piores. Toda congregação é uma congregação de pecadores. Se isso não fosse ruim o bastante, todas elas têm pecadores como pastores.
           Não nego que existam momentos esplêndidos na congregação. Eles existem. Muitos e freqüentes. Entretanto, também existem condições de penúria. Por que negá-lo? E como não ser assim? Não existe um pastor sincero no mundo que não esteja profundamente consciente das precárias condições que existem na congregação e, conseqüentemente, da tarefa interminável de limpar o lixo, encontrar um espaço para respirar, fornecer alimento adequado, sair às ruas dia após dia, noite após noite, arriscando sua vida com atos de fé e amor. Nós experimentamos isso semana após semana, ano após ano. Algumas semanas são um pouco melhores; outras, piores. Porém essa tarefa está sempre presente. Essas condições são idênticas às que Moisés enfrentou no Sinai; Jeremias, nas ruas de Jerusalém; Paulo, na lasciva igreja de Corinto; e João,
entre as canas quebradas de Tiatira. Negar isso nos incapacita para nosso verdadeiro trabalho. Evitar isso nos separa das percepções espirituais de Isaías e da dor de Davi, da fome e da sede que nos atraem à justiça do Cristo crucificado. 
          Propagandistas estão por aí mentindo para nós a respeito de como as congregações são e devem ser. Eles estão mentindo por dinheiro. Querem nos deixar descontentes com o que estamos fazendo a fim de que compremos deles uma solução que, prometem, irá restaurar a energia de nossas congregações. O lucro entre os que negociam essas fórmulas espirituais indica que a credulidade pastoral nesse assunto é interminável. Pastores, que enfrentam o fracasso dessas fórmulas adquiridas, tipicamente jogam a culpa na congregação e a deixam por outra. O Diabo, que está por trás de toda essa falcatrua maquiada e engomada, tão facilmente nos deixa descontentes com o que estamos fazendo que levantamos as mãos, angustiados, e vamos para uma outra congregação que apreciará nossos dons no ministério e nossa devoção ao Senhor. Todas as vezes que um pastor abandona uma congregação por outra devido ao tédio, à raiva ou à inquietação, a vocação pastoral de todos nós é enfraquecida.

Eugene Peterson