PECADOS DE OMISSÃO - John Owen (1616-1683)
Você não mortificará nenhum pecado a não ser que, sincera e diligentemente, busque lidar com todo pecado.
Para
colocar isto de modo bem simples, ao cristão não é dada a opção de
decidir qual é o pecado na sua vida que precisa ser mortificado. Se o
cristão não estiver comprometido com a mortificação de cada um e de
todos os pecados na sua vida não alcançará sucesso na mortificação de um
único pecado. Permitam-me explicar o que quero dizer de um modo ainda
mais completo.
Um
cristão é provado por um desejo pecaminoso. Este desejo pecaminoso
(pense naquele que melhor se aplica a você) perturba o cristão. Está
sempre derrotando-o e rodeando-o de modo que ele aspira por uma
libertação completa. Não apenas isso, ele luta, na verdade, contra esse
pecado, ora e lamenta quando é derrotado por ele. Ao mesmo tempo,
contudo, há outros deveres da vida cristã que ele não leva muito a
sério. Pode passar dias sem desfrutar de verdadeira comunhão com Deus.
Pode ler sua Bíblia de um modo casual, negligenciando a meditação na
Palavra de Deus e gasta pouco ou nenhum tempo em oração. Estes deveres
negligenciados ou executados de modo indiferente na sua vida cristã são
pecados (pecados de omissão), mas não o perturbam como o pecado do qual
deseja ser liberto. Bem, o ponto que estamos procurando enfatizar é que o
cristão não deve esperar obter libertação do pecado que o perturba
enquanto não começar a tratar os outros pecados com a mesma seriedade.
Por que as coisas são assim? Há duas razões:
a)
Esta tentativa de alcançar uma mortificação parcial se baseia num
raciocínio falso. Sem ódio ao pecado como pecado (e não apenas ódio das
suas conseqüências perturbadoras) e um sentimento do amor de Cristo na
cruz, não pode haver a verdadeira mortificação espiritual. Ora, esta
tentativa de mortificação não evidencia estar sendo motivada pelo ódio
ao pecado como pecado e a um reconhecimento do amor de Cristo na cruz.
Antes, o motivo é tão-somente o amor próprio. Certo pecado em particular
perturba a paz desta pessoa e o seu bem-estar, e então ela luta contra
este pecado simplesmente para obter novamente a paz e o bem-estar.
A esta pessoa um pastor fiel precisaria dizer:
Amigo,
você tem negligenciado a oração e a leitura da Bíblia. Você tem sido
descuidado quanto ao exemplo de vida que dá aos outros. Estas coisas são
tão pecaminosas e más como o pecado que você está procurando vencer.
Jesus derramou Seu sangue por esses pecados também. Por que você não se
esforçou para vencê-los? Se você realmente odiasse o pecado, você seria
tão vigilante em relação a tudo que entristece e perturba o Espírito
Santo como está sendo em relação a este pecado que perturba sua alma.
Acaso você não percebe que sua batalha contra o pecado se volta tão
somente para a busca da sua paz e do seu bem-estar? Pensa que pode
contar com a ajuda do Espírito Santo para livrá-lo do pecado que lhe
perturba quando não demonstra nenhuma preocupação em lidar com outros
pecados que O entristecem tanto quanto esse que perturba você?
O
que quer que possamos pensar, a obra da mortificação que Deus requer é
um comprometimento total com a mortificação de todo pecado. Se um
cristão sinceramente pretende fazer o que Deus requer, pode contar com a
ajuda do Seu Espírito. Se o cristão está apenas interessado em fazer
sua própria obra (ou seja, simplesmente mortificar o pecado que o
perturba) Deus o entregará a lutar pela sua própria força. O mandamento
é: "purifiquemo-nos de toda impureza, tanto da carne, como do espírito,
aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus" (2 Cor. 7:1). Se
fizermos alguma coisa, é mister que tentemos fazer todas as coisas.
b)
Às vezes Deus usa um desejo pecaminoso forte e que não foi mortificado
num cristão como um meio de discipliná--lo. Quando um cristão fica morno
(Apoc.3:16ss.) e descuidado no seu andar com Deus, Ele, às vezes,
permite que um desejo pecaminoso cresça, fique forte no seu coração,
para que se torne numa chaga e num fardo para ele. Esta pode ser uma das
maneiras de Deus disciplinar um cristão por sua desobediência, ou pelo
menos despertá-lo para que atente para seus caminhos e seja chamado a
uma mortificação total do pecado. Um exemplo semelhante a este se pode
ver na maneira de Deus lidar com Israel nos dias dos Juizes (veja, por
exemplo, Juizes 1:27 a 2:3 - especialmente 2:3).
Nota 1
Quando
um cristão é atormentado por certo desejo pecaminoso que é tão forte
que ele mal sabe como lidar com ele e controlá-lo, isto é geralmente o
resultado de um andar descuidado com Deus ou de uma atitude de não levar
a sério as advertências das Escrituras.
Nota 2
Às
vezes Deus usa a chaga de certo desejo pecaminoso em particular para
evitar ou curar algum outro mal. Foi esse o propósito de Deus ao
permitir que um mensageiro de satanás perturbasse Paulo, impedindo dessa
maneira que "ele se ensoberbecesse com a grandeza das revelações" que
havia recebido (veja 2 Cor. 12:7). De igual maneira, pode ser que o
Senhor tenha deixado que Pedro O negasse, como um meio de corrigir a
exagerada confiança de Pedro em si mesmo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário